SBGG discute quarta onda, aspectos psicológicos e físicos de idosos durante pandemia

Gebbeg Geriatria Idosos Terceira Idade
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Coronavírus no Brasil

SBGG discute quarta onda, aspectos psicológicos e físicos de idosos durante pandemia. Entidade reuniu três especialistas para abordar as perspectivas, riscos e legado que idosos podem tirar deste período

Segundo projeção do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de idosos vai superar, pela primeira vez, a quantidade de crianças e adolescentes em 2031. Em 2050, o País ocupará a sexta posição em números de idosos no mundo. Além das limitações físicas e doenças causadas pelo passar dos anos, o envelhecimento vem acompanhado de uma série de alterações nos padrões de vida dos indivíduos desde o que se refere a autonomia de ir e vir, até mesmo com relação aos costumes. Quando toda essa transformação é acelerada por uma pandemia, e todas as consequências restritiva que essa nos impõe, os cuidados com os idosos, em especial com a saúde emocional dos mesmos, devem ser redobrados.

A Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) reuniu três especialistas da área para debater o que vem sendo chamado de quarta onda da Pandemia, ou seja, os problemas que a Covid-19 pode provocar na saúde mental dos idosos. Só para constar, as outras três ondas são: a pandemia em si; a superlotação do sistema de saúde; e o aumento de pacientes com doenças crônicas.

Para Valmari Cristina Aranha, psicóloga especialista em Gerontologia, a Covid-19 ocasionou uma agudização da situação dos idosos. “O que antes era o medo da finitude, o medo da morte, agora ele se torna muito mais real. Não apenas em função da perda que estamos vivendo – seja ela real (perda de familiares) ou simbólicas (perda da condição socioeconômica) – mas também a impossibilidade do luto. Para quem tem 20 anos isso tem um significado, para quem tem 80 tem outro”, explica Valmari.

Wilson Jacob Filho, médico especialista em geriatria e gerontologia, ressalta a importância de se levar em conta os predisponentes das doenças e não apenas seus desencadeantes. “Mesmo a infecção por Coronavírus terá comportamento diverso de acordo com o grau de predisponentes que o indivíduo tinha antes do desencadeante Corona. Diante de uma sobrecarga como essa, tanto do ponto de vista física como do emocional, é produzida, muitas vezes, situações catastróficas. Uma dessas situações é a insuficiência respiratória que leva o indivíduo à morte quando acometido por este vírus. Outra situação catastrófica é por medo de contrair o vírus, ou por todos os outros medos que se somam a este, o indivíduo entra em um estado de desequilíbrio emocional que o leva a não mais reconhecer as suas potencialidades”.

O especialista continua: “Eu gosto de lembrar que, na maior parte das vezes, os jovens têm a sua primeira vez em cada uma das coisas que faz. Os idosos têm, frequentemente, a sua última vez: era a última viagem que eu tinha programado, talvez seja o último Dia das Mães que eu comemoro com a minha família etc. Esta última vez foi abruptamente usurpada dos idosos”.

Naira Dutra Lemos, presidente da Comissão de Título de Especialista em Gerontologia da SBGG, relembrou o documento emitido, em maio, pela Organização Mundial da Saúde (OMS) intitulado “Um Breve Relato sobre o Impacto da Pandemia da Covid-19 nos Idosos” para chamar a atenção para outro problema advindo da pandemia e de sua convivência forçada: a violência, que também pode levar a problemas emocionais: “A OMS fala em seis impactos: bem-estar econômico; saúde mental; que os idosos não são sempre vítimas ou causadores da Covid-19; a questão da vida e da morte; vulnerabilidade; e abuso e negligência. Se em 2019 nós já tivemos um número expressivo de casos de negligência e violência doméstica, com a pandemia a tendência é que esse número seja ainda maior. Três outros fatores podem contribuir para isso: a insegurança econômica; a infraestrutura social modificada, isto é, aquele idoso que tinha certa independência de se locomover para outros lugares, agora está isolado, sem ter com quem falar; e dificuldade de acesso a serviços que estava acostumado a receber.”

Em conclusão, os três especialistas apontam alguns aprendizados que podem ser tirados desse período: “Todos estamos passando pelos mesmo problemas e ninguém está imune nem ao vírus, nem as consequências dele. Então, temos que viver este momento da melhor maneira possível”, apontou a Naira Lemos. “A pandemia nos trouxe a oportunidade de nos conhecermos melhor. Variação das emoções são normais, mas elas precisam passar. Quando não passa é o momento de procurar ajuda de um profissional, pois um sofrimento dividido é mais fácil de ser suportado”, salienta Valmari Aranha. Wilson Jacob Filho destacou o legado que pode ser deixado. “Os piores momentos da humanidade deixaram um legado difícil, mas que de alguma maneira nos ensina aquilo que usaremos para o tempo futuro. O legado mais importante é saber que ser idoso não é risco. Risco é ser frágil. Se aprendermos que podemos envelhecer sem nos fragilizarmos teremos uma perspectiva perante o envelhecimento completamente diferente que antes”.

SBGGSociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia